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Bicigrino em Santiago: Santiago Matamouros

No início do século IX, quando a invasão muçulmana está praticamente consolidada somente os reinos do norte resistem a dominação, fazia falta uma figura que unificasse a luta contra o inimigo comum. Nas batalhas, os mouros invocavam a Maomé e os cristãos a Santiago. Desse modo, Santiago, apóstolo humilde e pobre, que confia no poder da palavra, transfigura-se num guerreiro – Santiago Matamouros – que toma a espada pela primeira vez em 23 de maio de 844 para ajudar a Ramiro I de Astúrias na batalha de Claravijo, contra Abderramán II.

Segundo a lenda, San Tiago foi visto pelos cristãos espanhóis, cavalgando à frente da batalha num cavalo branco, com sua espada. Foi sob a sua bandeira que o Cristianismo reconquistou a Espanha, foi seguindo o seu cavalo branco que os espanhóis expulsaram os mouros. O culto ao apóstolo tornou-se o foco espiritual e o símbolo da Reconquista. E a espada como punho em forma de cruz se tornou o símbolo do apóstolo Tiago.

Mais tarde, Cervantes registrou, no seu Don Quixote de la Mancha, que Santiago Mata-Mouros é um dos mais valorosos santos e cavaleiros que o mundo alguma vez teve; foi dado a Espanha por Deus, como seu patrono e para sua protecção.

Wikipedia diz ainda que conquista hispânica na América, a iconografia de mata-mouros foi readaptada, surgindo a figura de Santiago Mata-Índios, que se tornou símbolo da conquista tanto de corpos quanto de almas no Novo Mundo.

Pois bem, durante o caminho, diversas vezes deparamos com menções, pinturas e esculturas retratando Santiago Matamouros em cima de seu cavalo branco empunhando a espada/adaga contra mouros caídos no chão. É no mínimo curioso notar a inconsistência ética (aos tempos atuais) de Santiago, retratado como um matador de gente (mouros e índios, no novo mundo). No mínimo, um santo politicamente incorreto!  É claro que essa visão tem que ser analisada a luz da história e da cultura vigente na época. O que se nota é que essa caracterização de Santiago não tem desmerecido sua relevância religiosa e mística. Entretanto, encontrar sinais de Santiago Matamouros é mais uma curiosidade a ser garimpada pelo peregrino durante o caminho.

Santiago Matamouros

Santiago Matamouros

Bicigrino em Santiago: Ultréia e Suséia

 

No caminho, costumamos cumprimentar outros peregrinos através da palavra “ULTRÉIA”. A resposta esperada é a palavra “SUSÉIA”!

ULTRÉIA é uma palavra de origem latina que era pronunciada pelos peregrinos que chegavam a Catedral de Santiago como mostra de júbilo por ter chegado ao fim de sua jornada. Não se trata somente de uma forma de verbalizar a alegria de ter chegado a Catedral de Santiago, mas algo como: “seguir em frente”, “para frente” em busca da realização de um objetivo, de uma meta a qual tendo fé iremos alcançar, mesmo diante das dificuldades não deveremos desistir, ainda que respeitando os nossos limites.

Não obstante temos de ter a humildade suficiente para reconhecer que jamais iremos alcançar a perfeição, temos de seguir sempre para frente e sabermos que, por mais que aperfeiçoemos, sempre poderemos nos superar.

A segunda palavra SUSÉIA – “para cima” e “para o alto”, tem o sentido da busca pela realização de um objetivo que todo o ser humano deve perseguir, a evolução espiritual, essa é a verdadeira, senão única realização humana que transcende a morte.

A conjugação destas duas metas, ULTREYA “para a frente” e SUSEYA “para cima” são condição de votos de sucesso no Caminho de Santiago. À medida que avançamos no caminho, aproximamo-nos cada vez mais de Santiago – ” para frente”, e mais nos sentimos com o espírito elevado, próximo do templo divino, da mensagem a exemplo de Cristo e de seu Apóstolo mais aguerrido, Santiago, ou seja: “para cima”.

Bicigrino em Santiago: Motivação para a Jornada

Não me considero religioso nem místico, pelo contrário (ainda que meus amigos e irmãos mais próximos tentem me convencer do contrário). Sou totalmente cartesiano e pragmático – por isso me encontrei nessa profissão de gerente de projetos. Mas, exatamente por ter que mudar meu modo natural de pensar, que essa experiência, foi muito gratificante para mim.

Aprendi a me conhecer melhor. Analisei meu comportamento diante de riscos, do medo, da solidão. Coloquei-me distante da minha rotina de vida e trabalho e pude refletir sobre ela como alguém que vê de fora – um amigo, por exemplo, que te conhece e te dá conselhos. Estranha sensação de falar comigo mesmo durante horas a fio.

Praça do Obradorio

Praça do Obradorio

Ainda que meus motivos da minha viagem não fossem, necessariamente, religiosos ou místicos, contagiei-me cada vez mais pela religiosidade Cristã que paira sobre o caminho. Aproximei-me e experimentei a verdadeira vida peregrina. Senti as dores de ficar horas sobre a byke, com os músculos em atividades intensa. Senti frio. Dormi em saco de dormi sobre um beliche e, por algumas vezes (poucas) no chão de pedra. Tomei banho frio e comi apenas aquilo que necessitava para manter a minha integridade física e continuar trilhando o caminho. 

Aprendi (li em um dos locais que visitei) que o caminho é uma escola de vida, nele emergem a solidariedade frente ao individualismo, a conversação frente a falta de comunicação, o mundo interior frente à dissipação, a austeridade frente ao consumismo, o espírito aberto frente ao localismo, a simplicidade frente à complexidade, a personalidade frente ao mimetismo social e o sacrifício frente ao hedonismo.

Encontrei meus motivos no caminho, terminei mais próximo de mim, dos meus e de Deus. Ultreia e Suseia!

O Caminho do Sol – Aventura sob uma bike

Postado em: 02/10/2008 – em: Blog do Soler

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No último feriado do Dia do Trabalho eu, meu filho Diego e meu amigo Marco Mezzena, nos lançamos num projeto de cumprir os 250 Km de trilhas do Caminho do Sol – Caminho de Santiago de Compostela no Brasil , de bicicleta, durante 3 dias e meio.

Confesso que usei do meu mais alto grau de precisão no planejamento do projeto. Levantamos informações de quem já havia feito a trilha, conversamos com grande especialista do “pedal”, enfim, tudo conforme manda o figurino, inclusive preparei uma análise de riscos detalhada, através da qual, foram tomadas ações preventivas e de mitigação para a maior parte dos riscos identificados.

Elaborei um Plano de Projeto minucioso, uma lista de equipamentos, víveres e preparação física/psicológica que nos apoiariam durante a jornada. Partimos, super empolgados, de Santana do Parnaíba (Pousada 1808) as 6:30hs do dia 01/Maio. Fazia frio, mas não chovia. O equipamento estava perfeito, o preparo físico adequado.

Tudo OK! Daí em diante, desde o início, começaram as dificuldades não planejadas. Chuva torrencial durante todos os dias ininterruptamente, lama acima da conta a ponto de impossibilitar a byke de andar na trilha e emperrar o mecanismo de troca de marchas, sapatinhas de freio que se desgastaram acima de qualquer previsão por conta da adstringência da lama e da roda, pneus que furaram acima da quantidade planejada de câmaras de ar sobressalentes, pontes caídas, cansaço e dores lombares acima do planejado – essa última dificuldade, provavelmente por conta da jornada (em um dos dias) de 13,5 horas pedalando no meio de trilhas, inclusive no escuro intenso das ruas de um canavial, sem luz nas bykes ou nos capacetes (afinal, não nos planejamos para pedalar a noite!).

Tudo foi dando errado, roupas molhadas no corpo e dentro das mochilas (supostamente impermeáveis), frio intenso, equipamento de localização danificados pela chuva, Bykes que iam se deteriorando e quebrando com o excesso de pressão sobre elas. Sem contar o aspecto físico e psicológico. O que minha esposa diria se algo acontecesse com meu filho?

Apesar de tudo isso nossa vontade de chegar era enorme. Nos superamos a cada dificuldade. Passamos por cima do plano e resolvemos chegar a qualquer custo. O senso de comprometimento e de integração da equipe funcionou milagrosamente. Quando um parecia que ia desistir, havia o outro para ajudar. Perceveramos e conseguimos chegar. Em que estado? Detonados! O câmbio da byke do meu filho foi largado no caminho, após quebrar em pedaços. A corente foi ajustada para a marcha mais leve. Pelo menos ele pode pedalar nas subidas. Já nas retas e descidas, ele tinha que ser empurrado pelas costas.

Faltava menos de 3 KM e a garupeira da byke do Marco quebrou de vez. A mochila foi para as costas. Ainda bem que estávamos no fim. Ele não teria condições de andar muito tempo com uma mochila pesada (molhada) nas costas por muito tempo. Isso me lembra uma frase que li num livro: “Pain is temporary. Proud is forever”.

Nós chegamos e esquecemos a dor. Restou a vitória! De tudo ficou a pergunta: O que nos fez chegar ? Ou melhor, será que o plano nos fez chegar ? Ou a nossa vontade e senso de superação nos fez chegar ? Será que devo investir mais na elaboração de um plano de projeto super detalhado ou cuidar para que os integrantes da equipe estejam comprometidos com o resultado? O que é mais importante/ Quão importante?

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